
Cada ano, as crianças recebem um “Roteiro de Pesquisa”. Nele está descrito todos os conteúdos que devem ser abordados naquele ano. Cada criança tem autonomia de decidir em que momento quer estudar cada conteúdo, realizando um planejamento anual. Por exemplo, o 8º ano possui o roteiro de América; Construção do Estado Nacional Brasileiro; Consumismo; Genética, Sentido, Sistema Nervoso, etc. Cada roteiro possui objetivos: o roteiro de “Construção do Estado Nacional brasileiro” possui vários objetivos, dentre eles: 1-Estudar o processo de independência das colônias inglesas e a formação dos Estados Unidos. Cada objetivo apresenta determinadas atividades: pesquisar no dicionário a definição de liberdade e independência; ler as paginas 93 a 96 do livro x, responder anexo 2, pesquisar e responder quem foram Angela David, Rosa Parks, etc.

Quando todos os objetivos de determinado roteiro são cumpridos, os alunos fazem um portfólio em que retratam tudo o que aprenderam neste roteiro. O portfólio pode ser tanto um texto corrido, como uma apresentação de slides para o tutor, uma intervenção na escola, uma peça de teatro, etc. Além disso, os alunos também respondem algumas perguntas elaboradas pelo tutor. Estas perguntas não valem nota e tampouco são feitas em um tempo imposto. Os alunos podem resolver quando quiserem e com consulta, levando para casa, ou até mesmo começando em um dia e terminando em outro.
Em abril de 2017, visitei a escola Amorim Lima. L. uma menina do 8º ano, muito simpática e extrovertida, foi a minha guia durante o dia. Ela fez uma visita completa pelo espaço e teve o cuidado e a atenção de explicar tudo da escola com seus mínimos detalhes. O Amorim Lima é uma escola pública que recebe crianças do ensino fundamental I e II. Há um turno da manhã (08h-12h) e um turno da tarde. O Fundamental I é chamado de Ciclo I e o Fundamental II é chamado de Ciclo II. Apesar do nome “ciclos”, a escola é dividida por anos. O 1º ano e do 2º ano são os únicos anos que possuem salas fixas. Os demais alunos da escola frequentam todas as salas em uma espécie de revezamento.

L., por exemplo, escolheu fazer um "objetivo" por dia na sua rotina. Ela diz que se organizou para terminar o ano no final de novembro. No entanto, seus amigos que querem terminar o ano no inicio de novembro realizam 2 "objetivos" por dia. Os objetivos podem ser feitos no momento de “roteiro de estudos” na escola ou até mesmo em casa.
O "momento roteiro de estudos" é feito junto ao tutor. Cada tutor possui um grupo de 15 alunos (3 grupos de 5) que se reúnem para realizar atividades e podem receber ajuda e orientação do tutor. Além disso, há momentos da “roda de conversa”, no qual as crianças podem debater sobre assuntos da escola ou do mundo, mediadas pelo tutor.


A escola se organiza através de grupos de responsabilidade: Todos os espaços da escola são de cuidado de todos, porém os grupos de responsabilidade são uma espécie de liderança na organização e limpeza de determinado espaço ou realização de alguma tarefa. Os grupos são: Achados e Perdidos (reúnem os itens perdidos e realizam uma exposição no inicio da cada semana para os itens serem encontrados); alimentação; Assembleia (organizam as pautas); apresentação da escola; biblioteca; horta/jardim; laboratório de ciências; música na escola; parque; recreio bom (formas de tornar o intervalo mais divertido); salão; salão alfabetização; salas multiuso; saúde e cuidados; laboratório de ideias (espaço com ferramentas, impressora 3D, etc), entre outros. As assembleias são feitas entre os alunos e educadores e ali são decididos temas relevantes para a escola.
As “oficinas” são aulas elaboradas pelos educadores de área(especializados). São aulas em que são propostas atividades, dinâmicas individuais ou em grupo, em que todos os alunos podem participar e opinar. A escola também oferece aulas de Maracatu na parte da tarde tanto para seus alunos quanto para a comunidade ao redor.
A escola recebe cerca de 30 alunos com questões de saúde mental e há uma comissão de educadores e familiares que se dedicam a esta questão. Além disso, a prefeitura enviou 2 mediadores para aqueles alunos que apresentam maior dificuldade no convívio com os demais. L. contou que existem pais voluntários muito ativos e participativos.


Ao caminhar pela escola, conheci alguns espaços como, por exemplo, as salas de “multiuso” que são utilizadas para quaisquer atividades e oficinas. Algumas delas são enormes, formando um grande salão onde as crianças juntam suas mesas em rodas. A escola possui uma quadra aberta e uma fechada, além de pista de skate e um parquinho. Em toda a escola foi possível ver estudantes sempre reunidos em pequenos grupos, nunca enfileirados. Perguntei como era para L. estudar em uma escola como essa. Ela contou que no início ficou assustada e não sabia como seria, mas logo se acostumou e hoje em dia é apaixonada pela forma libertária com a qual convivem ali.
Para mais informações:














