Desenhando o pesquisar

O Projeto Andanças Educativas é fruto de uma busca pessoal baseada na pesquisa em 30 escolas democráticas brasileiras e no exterior. Tal interesse culminou no mestrado ("Entre voos e gaiolas: Uma análise de processos de subjetivação em escolas democráticas") e na sua continuação no doutorado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRJ. Na intenção de ultrapassar os muros da academia, organizei o material coletado nesta uma plataforma digital e um Instagram (@andancaseducativas).
As bases da pesquisa se constituíram no Mapa de Inovação e Criatividade, desenvolvido pelo MEC, que reconheceu 178 instituições educacionais brasileiras, entre organizações não governamentais, escolas públicas e particulares, como exemplos de inovação e criatividade na educação básica.(http://criatividade.mec.gov.br/mapa-da-inovacao).
Inicialmente, fui voluntária da Escola Comunitária Cirandas (Paraty) por um mês, a fim de mergulhar diariamente neste processo e me aproximar das dinâmicas ali construídas. Após esta experiência, visitei escolas em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia. Em 2017, tive a oportunidade de ampliar os horizontes da pesquisa em países como Israel e Portugal. Em 2018, retornei a Israel para estudar por um período no Mestrado em Educação Democrática da Universidade de Tel Aviv. Durante este tempo, trabalhei na escola democrática Kehila, Tel Aviv – Yaffo.
Este estudo não se propõe a provar a eficácia de uma corrente pedagógica em detrimento de outra e tampouco defender um modelo único a ser seguido. Meu objetivo foi desenhar a rede de forças a qual estas escolas estão conectadas, acolhendo seus movimentos permanentes.
Estas vivências me mostraram a pluralidade daquilo que pode ser compreendido enquanto educação democrática. Vale frisar que a maioria delas não se autodenomina "democrática", sendo uma escolha teórica e pessoal a eleição deste termo. Cada escola apresentou uma realidade diferente e uma dinâmica única e singular. No mais, foram escolas muito diversas entre si: umas públicas, outras privadas; escolas rurais; escolas na beira da praia e no meio de grandes centros urbanos; escolas com 15 alunos e outras com 600, dentre tantas outras particularidades.
Percurso

Sou Giuliana Volfzon Mordente, psicóloga e pedagoga, apaixonada pelos movimentos pedagógicos transformadores e potentes.
Atual professora do Instituto de Psicologia da UFRJ; doutoranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia da UFRJ, mestre em psicologia pelo PPGP UFRJ com foco em educação democrática e processos subjetivos, cursante da Especialização em Educação Transformada da PUCRS, carrego em meu olhar subjetivo uma atenção às práticas pedagógicas que visam emancipação, liberdade e autonomia.
A minha trajetória pessoal foi construída a partir da experiência no Movimento Juvenil Judaico Habonim Dror ao longo de toda a infância e juventude. Este movimento, autogestionado por jovens, trabalha com a ideia de educação não-formal, no qual jovens educam jovens, em uma constante horizontal e crítica. Realizam-se atividades lúdicas, assim como debates ideológicos. Trata-se de um movimento de esquerda sionista. Todos os membros se dividem em grupos de trabalho que auxiliam na sua manutenção. Neste período, pude entrar em contato com diversos autores e ideais que proporcionaram um olhar problematizador em relação à educação. A experiência de educação democrática vivenciada abriu um campo de possibilidades para entender os vínculos pedagógicos criados na relação educador-educando, desdobrando horizontes para se pensar na possibilidade de estender uma educação, pautada por um olhar democrático, para o campo escolar.
A experiência em uma escola localizada no interior de uma unidade socioeducativa do DEGASE, por meio do Projeto Parcerias UFRJ, me aproximou do universo educacional por outra perspectiva. Entramos em contato com adolescentes que abandonaram a escola há muitos anos e que, naquele momento, se deparavam com a obrigatoriedade de voltar a frequentar esta instituição. Temáticas como a falta de investimento em políticas públicas de educação, processos de exclusão e impacto da vivência institucional de privação de liberdade nas subjetividades dos adolescentes ali internados reverberavam a cada encontro.
Em 2017, dei inicio ao projeto Andanças Educativas, culminando na entrada no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRJ.
Expandindo horizontes
Em dezembro de 2017 e janeiro de 2018, tive a oportunidade de ampliar os horizontes da pesquisa, podendo adentrar em realidades de países como Israel e Portugal. Israel sempre me chamou atenção pelo rico solo onde germinaram cerca de 200 escolas democráticas. Um país pequeno em tamanho, porém gigante em visão pedagógica. Portugal, por sua vez, me instigava por ser o local onde a Escola da Ponte (escola de maior inspiração) se encontrava.
Assim sendo, em Israel, visitei as escolas: Escola Democrática de Hadera - criada pelo meu grande amigo Yaacov Hecht, Escola Democrática de Kfar Saba, Escola Kedem Arad, Escola Wahat Al-Salam/Neve Shalom (escola de judeus e árabes), Escola Democrática Kehila e Escola Democrática Ptucha. Em Portugal, pude visitar a tão sonhada Escola da Ponte criada pelo professor José Pacheco.


Em 2018, a pesquisa ganha um atravessamento acadêmico, a partir do meu vínculo como mestranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia da UFRJ. No segundo semestre deste mesmo ano, fui para Israel estudar por um semestre no curso de mestrado em Educação Democrática na Universidade de Tel Aviv, Israel.
Durante este período, fui voluntária na Escola Democrática Kehila, localizada em Tel Aviv – Yaffo.
Em 2020, dei continuidade à pesquisa no doutorado do Programa de Pós Graduação em Psicologia da UFRJ sob orientação do professor Francisco Portugal.
Neste mesmo ano, iniciei como Professora Substituta do Instituto de Psicologia da UFRJ, departamento de Psicologia Social. Ministro a disciplina Educação Democrática e Processos de Subjetivação, onde trabalhamos mais profundamente as discussões da minha pesquisa, de forma coletiva.
Mestrado:
Sobre voos e gaiolas: uma análise de processos de subjetivação em escolas democráticas
MORDENTE, Giuliana Volfzon. Sobre voos e gaiolas: uma análise de processos de subjetivação em escolas democráticas. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2020.
A pesquisa Sobre voos e gaiolas: uma análise de processos de subjetivação em escolas democráticas busca analisar processos subjetivantes - linhas de forças, intensidades, rupturas e criações - produzidos em escolas democráticas. O modelo pedagógico hegemônico hoje subjetiva valorizando tendências normativas calcadas na massificação, serialização e individualismo. A educação democrática surge para fazer frente a essas realidades, visando o fortalecimento de uma sociedade democrática e ordenamentos sociais singulares. A partir de visita em cerca de 30 escolas no Brasil, em Portugal e em Israel, tais processos foram mapeados através de três analisadores: singularização, autonomia e participação coletiva. Este estudo se baseou na observação participante, elaboração de diários de campo e levantamento bibliográfico enquanto metodologia, visando desenhar a rede de forças destas escolas e acolher seus movimentos permanentes. A partir dos referenciais da microfísica do poder de Foucault, micropolítica do desejo de Guattari e Deleuze e abordagem institucionalista de Baremblitt e Lapassade, analisa-se o modelo escolar tradicional, as influências filosóficas da educação democrática, culminando nas experiências encarnadas em diálogo com as reflexões teóricas.
Palavras chaves: educação, psicologia social, escolas democráticas, transformação.
Curso de extensão - Instituto de Psicologia (UFRJ)
Educação Democrática e Processos de Subjetivação
O curso Educação Democrática e Processos de Subjetivação – ministrado pela professora Giuliana V. Mordente, docente do Instituto de Psicologia da UFRJ, em colaboração com o professor Francisco Portugal e extensionistas, se iniciou no dia 26 de março, 2021 (online). O curso contou com a participação de docentes da graduação de Psicologia da UFRJ, juntamente com público externo de pessoas interessadas e apaixonadas por educação!
Ementa: O curso busca discutir a produção de uma educação democrática no encontro com o campo da psicologia social crítica. A partir das reflexões dos processos de subjetivação contemporâneos, adentraremos no universo da instituição escolar, problematizando a sua estrutura, a produção do fracasso escolar e as lógicas neoliberais-empresariais. Por meio de um estudo sobre escolas democráticas brasileiras e suas inspirações teórico-práticas, mergulharemos no debate para a construção de uma educação democrática, libertadora, antirracista, feminista e decolonial. Em plena pandemia, propomos uma construção coletiva para refletir: como a educação, de mãos dadas com a psicologia, pode estar a serviço da vida?
