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O curso Educação Democrática e Processos de Subjetivação – ministrado pela professora Giuliana V. Mordente, docente do Instituto de Psicologia da UFRJ, em colaboração com o professor Francisco Portugal e extensionistas, se iniciou em março, 2021 (online). O curso contou com a participação de docentes da graduação de Psicologia da UFRJ, juntamente com público externo de pessoas interessadas e apaixonadas por educação!

 

Ementa: O curso busca discutir a  produção de uma educação democrática no encontro com o campo da psicologia social crítica. A partir das reflexões dos processos de subjetivação contemporâneos, adentraremos no universo da instituição escolar, problematizando a sua estrutura, a produção do fracasso escolar e as lógicas neoliberais-empresariais. Por meio de um estudo sobre escolas democráticas brasileiras e suas inspirações teórico-práticas, mergulharemos no debate para a construção de uma educação democrática, libertadora, antirracista, feminista e decolonial. Em plena pandemia, propomos uma construção coletiva para refletir: como a educação, de mãos dadas com a psicologia, pode estar a serviço da vida?

Principais pontos:

  • Educação democrática e suas experiências

  • Educação  libertadora, antirracista, feminista e decolonial

  • Educação em tempos de pandemia 

  • Produção da instituição escolar tradicional/hegemônica 

  • Produção do Fracasso Escolar

  • Tendências Pedagógicas

  • Neoliberalismo escolar

Abriremos uma 3a edição em novembro 

Interessados, enviar email para giulianamordente@yahoo.com.br

Curso de extensão - Instituto de Psicologia (UFRJ)

Educação Democrática e Processos de Subjetivação

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Acompanhe aqui o curso:

  • Aula 1 (26/03)

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Hoje demos início ao curso Educação Democrática e Processos de Subjetivação – ministrado pela professora Giuliana V. Mordente, docente do Instituto de Psicologia da UFRJ, em colaboração com o professor Francisco Portugal e extensionistas.

Inauguramos com o debate de “educação em tempos de pandemia”. Refletimos sobre a relevância da presença e do vínculo afetivo enquanto parte do processo educativo. Questionamos a redução do processo de ensino-aprendizagem à mera transmissão instrumental de conteúdo e a exigência de novos professores “youtubers”, agravando o quadro de precarização das relações do trabalho docente. Nossos currículos dão conta de pensar o desafio que a humanidade está enfrentando nesse momento? Como a educação pode estar a serviço da vida?

Diante da precária situação da população brasileira, que luta pelo acesso aos pacotes de auxílio emergencial, usufruindo de um acesso limitado à internet: como se preocupar com calendário escolar e assegurar condições de espaços e tempos adequados à aprendizagem? Como fingir normalidade, enquanto uns continuam seus estudos a distância e outros lutam para existir? A primeira urgência é o ensino remoto conteudista; o retorno às aulas presenciais sem infraestrutura para manutenção das normas sanitárias; ou a luta por nos mantermos vivos? Os sofrimentos não vão cessar com o retorno presencial à escola, pois outros serão produzidos. O deslocamento do confinamento não é por si só uma estratégia para preservação da saúde mental. É exatamente por não corroborar com a lógica negacionista, devem ser garantidas condições mínimas de segurança para tal retorno.

Nesse contexto, também debatemos qual uso político desse período do ensino remoto. Quem detém o monopólio das plataformas digitais a distância? Quais os interesses por detrás do ensino remoto e quem lucra com a sua implementação? Qual o protagonismo dos empresários e do capital estrangeiro nas políticas educacionais do país? A padronização do ensino remoto não seria uma oportunidade para o avanço do processo de privatização da educação pública e para a expansão do mercado de serviços educacionais?

  • Aula 2 (02/04)

Na nossa aula dessa semana - "O que há neste caldo teórico?" - trabalhamos as influências e inspirações que teceram os caminhos para uma educação democrática crítica e transformadora. Cada elemento das escolas democráticas foi cultivado por múltiplas correntes pedagógicas e filosofias educacionais. Essas tendências pedagógicas não se apresentam em uma perspectiva evolutiva e valorativa, mas coexistem em diferentes práticas, se complementando, partilhando valores e se reinventando todos os dias. Assim, adentramos por esse caldo teórico, conhecendo seus temperos, gostos, intensidades e cores. Para ilustrar cada tendência pedagógica, a partir do texto do Libâneo (1994), convocamos um filme diferente!

A pedagogia liberal diz respeito a educação da sociedade de classes, onde a escola tem a função de preparar os indivíduos para desempenhar papéis sociais, de acordo com suas aptidões individuais. Não visa, necessariamente, a mudança social ou ruptura com a ordem vigente, mas o aperfeiçoamento do sistema. Propunha a construção de um ser humano novo, dentro do projeto burguês de sociedade. Das pedagogias liberais, debatemos: a Educação Tradicional, Tendência Tecnicista, Paradigma Iluminista (Rousseau); Escola Nova (pragmatista); Antiautoritária (Não-diretiva).

As Pedagogias Progressistas partem da crítica à realidade social como base, de forma constitutiva de seus projetos e objetivos pedagógicos. Assim, adentramos na: Crítica-Social dos Conteúdos; Educação Libertária e Libertadora.

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  • Aula 3 (09/04)

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Na aula de hoje, trabalhamos inicialmente as crenças que sustentam a “tradição” da educação: por que seguimos reproduzindo organizações escolares e certos rituais, se nem a lei nos obriga? Refletimos sobre as inseguranças e medos frente a outros modelos de educação: medo que os estudantes “não aprendam”, não passem no vestibular, não consigam lugar no mercado de trabalho. Mas a escola tradicional hoje, garante tudo isso? Por que continuamos apostando no seu suposto sucesso?

 

Debatemos educação bancária problematizada por Freire, historicizando a produção da criança “normal”. Teorias do desenvolvimento, atreladas ao discurso da ciência moderna, que desenvolveram categorias com pretensão de neutralidade e universalidade, a partir das quais cada criança será medida e classificada. Somente ao desnaturalizamos a norma, poderemos problematizar seu o caráter inventivo e a produção dos estigmas desviantes daqueles que estão a sua margem.  A contribuição da tendência tecnicista, com a transposição dos princípios fabris para as escolas, também consolida a visão de um ensino instrumentalizado e uniformizado. Uma vez que a possibilidade de se aprender através do interesse e curiosidade foi suprimida, é necessário produzir motivadores artificiais - como notas, avaliações e recompensas – para assegurar certa dinâmica pedagógica. Aos poucos, a aprendizagem assume o lugar de mercadoria: “aprender para trocar por nota”.

 

Ao compreendermos que o desejo pela nota é produzido pelos movimentos de subjetivação capitalística, mergulhamos nos estudos de Produção de Subjetividade, propostos pelos filósofos Deleuze e Guattari. Ademais, investigamos Foucault e o poder disciplinar, encarnado no panoptismo. Escolas e prisões partilham funções e modelos subjetivos, ambas compreendidas enquanto instituições disciplinares. Ao nos depararmos com tamanha semelhança entre tais instituições, exemplificamos estes dispositivos através de exemplos comuns: sanção normalizadora; relação saber-poder; vigilância hierárquica; distribuição especial; controle do tempo e mortificação do Eu.

  • Aula 4 (16/04)

A aula de hoje, “Produção do Fracasso Escolar”, foi referenciada nos textos da Maria Helena de Souza Patto e Maria Teresa Esteban. A luta contra as políticas de individualização, que responsabilizam os sujeitos pelos seus fracassos, denuncia a insuficiência dos modelos de escola, conhecimento, ensino e aprendizagem estruturados até hoje. A dificuldade de estabelecer uma rede pública escolar de qualidade, parte de uma sociedade que, para manter os interesses dos governantes, sempre dispensou-se a educação popular. Desde o período colonial, até os dias de hoje, nunca houve real intenção de levar adiante um sistema de educação de qualidade.

Ao longo da história do pensamento educacional brasileiro, analisamos a segregação entre os “estudos maiores” - destinados às classes abastadas – e os estudos de instrução moral, religiosa, amor à pátria, obediência e trabalho braçal, destinados aos filhos dos pobres. A escola ocupou um lugar de instituição responsável por manter a ordem social e a moralização do povo. Não foi capaz de garantir a cidadania ou de enfrentar a exclusão social, pois sua própria estrutura contribuiu para uma prática classista e segregacionista. Que projeto de escola queremos hoje? A serviço de qual narrativa?

Para quem, de quem e em que estão referenciados os saberes e práticas produzidos nessa escola? Devemos problematizar a hegemonia dos “saberes socialmente válidos” - considerados “verdadeiros” pelo discurso científico, oriundos dos grupos dominantes; em detrimento dos saberes tidos como senso-comum, oriundos da cultura popular e das tradições de grupos. Neste sentido, podemos problematizar as avaliações escolares e nacionais: mais do que apenas avaliações neutras do “conhecimento”, tratam-se de práticas de classificação e seleção, que ignoram as bases desiguais. A avaliação produz uma padronização da aprendizagem a partir de parâmetros uniformes que silenciam as diferenças. O que é uma boa escola? Quais são os critérios que definem essa noção de qualidade? Que possamos abandonar a avaliação “sobre” os sujeitos, produzindo avaliações que os sujeitos falem sobre si, a partir de reflexões coletivas.

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  • Aula 5 (23/04)

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Nesta semana, para enriquecer nosso debate de Paulo Freire e Educação Popular – no ano de seu centenário – convidamos o grande educador Jota Marques para um encontro repleto de afetos, inspirações e histórias emocionantes. Jota Marque é educador popular; morador da Cidade de Deus; fundador da Escola de Educação Popular, Comunicação Comunitária e Política chamada MARGINAL; conselheiro tutelar do Rio de Janeiro; ativista dos Direitos Humanos; e atual estudante de pedagogia da UERJ. Às vésperas de seu aniversário, Jota solicitou de presente máscaras PFF2 para distribuir aos coletivos que estão na linha de frente nas favelas cariocas. Jota também está à frente da criação da primeira biblioteca popular da Cidade de Deus e do maior pré-vestibular da América Latina.

@jotamarquesrj
@marginaloficial

  • Aula 6 (30/04)

A partir do livro “Republica das crianças”, da Helena Singer, adentramos na experiência do educador judeu Janusz Korczak, que criou o orfanato Lar das Crianças, em plena 2ª Guerra Mundial, com uma organização coletiva e horizontal. Korczak recebeu propostas para fugir da Polônia, mas recusou e permaneceu ao lado das crianças até o fim. Em 1942, ele foi visto liderando uma fila de crianças, marchando e cantando em direção ao trem que os transportariam para as câmaras de gás. Ele foi morto no campo de concentração de Treblinka, ao lado de todas as crianças. Korczak representa a força de uma educação democrática em meio à barbárie.

Em um segundo momento, debatemos o uso dos termos escolas “alternativas”, “inovadoras”, “libertárias”, “libertadoras”, analisando "democracia" enquanto um conceito em disputa. Estudamos o que são as escolas democráticas: isto é, escolas que apresentam uma vivência e dinâmica democrática. Cada escola tem seu modo de funcionamento e organização único, a partir de cada realidade, sem receitas de bolo ou modelos a serem replicados. Prevalece na maioria delas: liberdade curricular, autonomia dos estudantes sobre suas trajetórias de estudos; participação direta, coletiva e comunitária nas decisões, através de assembleias com estudantes, familiares e educadores; ciclos ao invés de idades seriadas; educadores enquanto tutores/orientadores; grupos de responsabilidade (horta, jardinagem, alimentação, cinedebate, etc); mediação de conflitos (autogestionada); dentre diversos outros dispositivos. Essas escolas são processos vivos que se atualizam todos os dias, assumindo uma reflexão diária sobre suas práticas.

Mais do que reforçar um lugar romantizado/idealizado, é importante borrar os limites entre escolas tradicionais X escolas democráticas. Que essas escolas sirvam de inspiração para valorizarmos as práticas cotidianas emancipadoras que ocorrem, inclusive, em salas de aulas convencionais. Que possamos produzir uma educação que não seja privilégio de poucos, mas sim direito de todos. Que a força de contestação dessas experiências seja ferramenta de luta, ressaltando que pensar outra educação pública é possível!

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  • Aula 7 (30/04) A Escola Não É uma Empresa

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Na próxima semana lançaremos aqui uma série de reflexões sobre Neoliberalismo Escolar. Na aula de hoje, “A Escola Não é Uma Empresa”, traçamos reflexões pertinentes que serão trabalhadas mais a fundo nos próximos posts.

Como pensar a sujeição da escola à lógica econômica empresarial? Quais são as consequências da educação ter se tornado um grande mercado de investimento, uma mercadoria rentável para grandes conglomerados, um mercado que movimenta R$ 80 bilhões ao ano? Qual o impacto do discurso tecnocrata de eficácia frente às reformas liberais? Como resistir, se na sociedade de controle tudo aparenta ter maior liberdade e autonomia? Como diferenciar uma educação libertadora de uma educação neoliberal que captura as metodologias “progressistas” de ensino, sem colocar em cheque as estruturas opressoras de base? Qual perigo desse social-liberalismo - que incorpora demandas históricas dos movimentos sociais - sem qualquer perspectiva de transformação estrutural?

  • Aula 8 (07/05) Pedagogias Decoloniais

Na aula 8 do nosso curso, debatemos Pedagogias Decoloniais. Decolonialialidade não é um novo paradigma ou uma corrente teórica: é uma aposta, uma postura, uma atitude para se assumir em todas as esferas da vida: um projeto de vida.

A decolonialidade nos desafia a (des)aprender a pensar a partir das referências das epistemologias hegemônicas e a aprender a atuar nas fissuras e rachaduras da ordem moderna colonial. É sobre atuar nas brechas e fazer dessas fissuras lugares de potência. Como pensar outras formas que desafiem a hegemonia e universalidade do capitalismo, da modernidade eurocêntrica e da lógica de civilização ocidental?

Decolonizar a escola é pensar que projeto político de escola e que noção de docência sustentam a nossa discussão hoje. Para quem, de quem e em que estão referenciados nossos saberes e práticas? As pedagogias decoloniais buscam protagonismo das sabedorias e corpos que são invisibilizados nesses espaços; buscam desnaturalizar e problematizar práticas referenciadas em epistemologias hegemônicas.

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  • Aula 9 (21/04) Educação Feminista

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Nesta aula, trabalhamos as perspectivas de gênero e sexualidade no encontro com a educação, entendendo o feminismo como algo estruturante da maneira como educamos. Nos pautamos na interseccionalidade não enquanto somatório de opressões, mas como articulação das opressões a partir de diversos sistemas de poder: questões de classe, de gênero, de raça e de sexualidade – a fim de construir enfrentamentos não fragmentados

 

As duas grandes autoras trabalhadas em sala foram bell hooks – com o livro Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade - e Chimamanda Adichie, com o livro Para educar crianças feministas: um manifesto. bell hooks, inspirada por Paulo Freire, busca a produção de um ensino anticolonialista, critico, feminista:  multiculturalista.  Para a autora, o diálogo na educação é essencial para cruzar as fronteiras de raça, gênero, classe social, produzindo uma pratica pedagógica preocupada em questionar os sistemas de dominação e em produzir um ensino-aprendizagem diversificado. Destaca a importância do entusiasmo na educação e da liberdade enquanto projeto coletivo.

Chimamanda, em resposta à uma amiga sobre como devia educar a filha como feminista, responde com uma carta com 15 sugestões, produzindo um livro sensível e acolhedor. Como questionar o mandato da masculinidade na escola? Como ensinar nossas crianças a não se preocupar em agradar o tempo todo? Qual os efeitos da produção da “supermulher” que “dá conta de tudo”? Como problematizar nossa linguagem sexista? Ou melhor, como podemos conversar sobre relacionamentos, sexo e corpo, desde cedo? Acima de tudo, como ensinar sobre a diferença?

Sabemos que escola não somente transmite conhecimentos, mas também produz sujeitos e identidades. Para quais atividades meninos e meninas são encorajados? “Será que a menininha não teria virado uma engenheira revolucionária, se tivessem dado a chance dela explorar aquele helicóptero”? Como não empregar a “camisa de força” do gênero nas crianças pequenas, dando espaço para elas alcançarem todo o seu potencial? Em relação à população trans, são comuns relatos de violências e de dificuldade de utilização do nome social na chamada da turma, do uso de uniforme de acordo com gênero (e não ao sexo biológico), e da questão dos banheiros.  Tudo isso vai, aos poucos, produzindo a expulsão destas pessoas deste espaço. Como nós, educadoras e psicólogas, podemos recusar o papel de “amolador de facas” e construir um espaço coletivo de intervenções produtoras de vida?

  • Aula 10 (28/05) Educação Antirracista

Nesta aula do nosso curso, a partir da participação potente e pujante de nossos monitores @llesantana e @nahanrios, trabalhamos a temática da Educação Antirracista. Refletimos sobre a escola enquanto espaço de construção de identidades. A lei Lei 10.639, resultado da pressão histórica do movimento negro brasileiro, tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. O movimento negro, ao longo da história, criou suas próprias organizações de combate ao racismo, principalmente através da educação. Desde a década de 70, já demandavam a reavaliação do papel do negro na história do Brasil. Assim, debatemos a força do movimento negro enquanto movimento educador. A chamada “cultura de luta antirracista”, trabalhada no texto do professor Amilcar Pereira, propõe uma análise sobre a performance e estética nas Lutas do Movimento Negro Brasileiro como forma de reeducar a sociedade.  Como forma de encarnar nossa discussão, o Slam  Narrativas de cor e dor, da poeta Bell Puã, estremeceu o encontro com toda a sua força e denúncia.

 

A proposta é construir uma educação que vise enegrecer suas referências a partir de  livros escritos por pessoas negras, filmes dirigidos e protagonizados por pessoas negras, textos e narrativas literárias que as crianças se identifiquem, se reconheçam, e possam ser parte da produção de conhecimento no espaço escolar.  Uma educação que compartilhe a história de pessoas negras e suas conquistas: não somente a violência vivida. Uma educação que conte a verdadeira história da escravização nos currículos, que traga o olhar de abolicionistas negros; das diversas revoltas com protagonismo negros; e da importância dos quilombos. (@escurecendo fatos). Uma escola que critique o privilégio racial, o mito da democracia racial e a ideologia do branqueamento: um compromisso pedagógico e social de superar o racismo. A proposta de uma “pedagogia da diversidade”, apontada pela autora Nilma Gomes, é de construir novas práticas pedagógicas, novos materiais didáticos, abrir debates, estabelecer diálogo com a comunidade negra e com o movimento negro, entendendo como as populações negras pensam a educação nos seus próprios termos e não a partir de especulações alheias.

 

Discutimos o tema da “branquitude” enquanto identidade étnico/racial da pessoa branca, a partir de uma mudança de foco dos “outros racializados” para o centro sobre o qual foi construída a noção de raça, para os responsáveis pelas relações de dominação: a população branca. Analisamos os benefícios simbólicos e materiais fruto do privilégio dos brancos na hierarquia racial, assim como o pacto narcísico e solidariedade branca, denunciada por Bento e Lourenço Cardoso. Por fim, estudamos a Pedagogia das Encruzilhadas, proposta por Luiz Rufino. Trata-se de uma educação referenciada em Exu, isto é, um projeto político/poético/ético que tem Exu como fundamento teórico/metodológico - materialidade de uma proposta decolonial. Trata-se de uma pluriversalização da educação, uma sabedoria que opera nos vazios deixados pelo poder colonial; uma educação pautada na ambivalência da encruzilhada, onde o caminho é a possibilidade, e a dúvida e inacabamento, o horizonte

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  • Aula 11: Ocupação das escolas e Movimento Estudantil 

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Na última aula, tivemos a presença ilustre da convidada Mariana Teodozio - contribuindo para um debate intenso e inspirador sobre a força do movimento estudantil e as reverberações das ocupações das escolas. O movimento de ocupações de escolas, liderado por estudantes secundaristas, tomou conta do Brasil em 2015/2016: foram mais de mil escolas ocupadas por estudantes que denunciaram os rumos da educação. Muitos opositores tentaram dizer que as ocupações eram “ilegais”, que impediam os alunos de exercer seu direito de estudar – mas o que presenciamos foi uma verdadeira reviravolta dos limites da educação: assembleias, oficinas, estudos autogestionados, divisão de tarefas, agenda cultural: um caráter verdadeiramente educativo das ocupações! Mais do que romantizar esta experiência, trata-se de sentir a força de autonomia desses estudantes.

Em São Paulo, a gota d’agua foi a “máfia da merenda” e a tentativa de reestruturação do sistema educacional estadual que previa o fechamento de quase 100 escolas e o remanejamento de mais de 300 mil alunos e 70 mil professores. Os protestos surtiram efeito e o Alckmin suspendeu a reorganização do sistema. Mas a luta continuou em 2016: contra a PEC 241 (PEC do Teto de Gastos que congelou as despesas com saúde, educação, assistência social e Previdência pelos próximos 20 anos), contra a Escola Sem Partido; contra a reforma do Ensino Médio – reivindicando também melhores condições de ensino: melhores bibliotecas, manutenção dos banheiros, salas de aula com infraestrutura, segurança, pagamento dos salários dos professores, qualidade de ensino, etc.

Qual impacto das ocupações para pensarmos outra forma de organização escolar e pedagógica?Como o Movimento Estudantil pode fortalecer a luta por uma educação democrática e libertadora?

  • Aula 12: educação inclusiva

Encerramos o curso como debate acerca da educação inclusiva. A proposta foi problematizar a inclusão escolar como uma estratégia de individualização da exclusão presente na nossa sociedade e nas escolas. Inclusão não significa apenas a entrada de crianças e jovens portadores de necessidades educacionais especiais no interior das salas de aula regulares, pois essas crianças podem estar segregadas no interior da própria escola, a mercê dos esforços dos mediadores. Individualizar a exclusão nesses sujeitos não nos faz questionar todo o modelo escolar: ao contrário, retira o caráter coletivo dessa desigualdade. É o sistema educacional que deve ser transformado, e não os alunos adaptados a ele através de estratégias individuais.

A política de inclusão é uma estratégia de repensar e reconstruir a escola: a presença desses alunos indica mudanças necessárias no sistema educacional – repensando a padronização e homogeinização do sistema de avaliação, da serialização, da produção de material; os critérios de aprendizagem, a função da escola e, principalmente, o sentido do aprender. Enquanto continuarmos partindo do princípio que todos aprendem igual, da mesma maneira, no mesmo tempo: o problema será constante. Quando discutimos apenas “metodologias” de inclusão desse “outro”, reforçamos a culpabilização individualizante ora nos professores, ora nas famílias, ora nos estudantes.

Até que exista amplo reconhecimento da inclusão como um valor e não como um “procedimento”, ela nunca será vista como importante para todos. O direito à diferença é de todos, porque todos se beneficiam dela. Quais são os indivíduos escolhidos para pertencer ao espaço escolar e quais são os escolhidos para não pertencer? Quem cabe na categoria inclusão e quem não cabe? O que queremos fazer caber na escola?
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Agradecimentos: @mfiorepsi

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  • Encerramento

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Depois de um período de intensos debates, estudos e construção coletiva de pensamento crítico, encerramos a 1a edição do curso Educação Democrática e Processos de Subjetivação. O curso contou com a participação de pessoas de diversas áreas do conhecimento, distintas formações e atuações profissionais, o que contribuiu ainda mais para o enriquecimento dos nossos encontros. Com participantes de diferentes cantos do Brasil, a educação demonstrou a sua capacidade acolhedora de produzir interseções!

Agradecemos a todes participantes por terem vindo de coração aberto, dispostes a construir esse curso com entrega, presença e interesse! O encontro entre público externo e estudantes de graduação do Instituto de Psicologia da UFRJ produziu uma comunidade de aprendizagem necessária em tempos tão difíceis. Diante das estranhezas e distanciamentos do mundo remoto, fomos capazes de nos encontrar semanalmente, gerando respiros num constante esperançar!

Um agradecimento especial aos monitores @llesantanna e @rios_nahan por todo apoio e parceria!


 

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  • Abertura 1a edição

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