O QUE É EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA?

Uma escola sem aulas, sem divisão por turmas, sem distinção por série, sem hierarquia entre alunos e professores, sem quadro negro, sem sala de aulas, sem provas, sem cadeiras enfileiradas, sem separação das disciplinas. Diante desta descrição, muitos ainda se perguntam o que sobraria e como ainda poderíamos denominar esta instituição de escola. Pois é exatamente diante desta perplexidade que educadores como José Pacheco - idealizador da Escola da Ponte - e Yaacov Hetch - idealizador da Escola Democrática de Hadera - dentre tantos outros educadores e educadoras, surgem para apresentar e inspirar um novo modo de compreender a escola de hoje (Silva, 2007).
Experiências democráticas de educação inauguraram um novo olhar acerca das possibilidades de desconstrução de modelos pedagógicos rígidos e reprodutores de sistemas sociais repressores. Não é possível definir modelos a priori de escolas que se pretendem democráticas, pois cada escola é singular e construída de acordo com a sua realidade.
Ainda que cada escola tenha sua particularidade, seu modo de funcionamento e organização, há dois pontos que prevaleceram na maioria delas: a liberdade curricular -autonomia dos estudantes sobre suas trajetórias de estudos, explorando seus interesses - e as assembleias e/ou gestão participativa - estudantes, familiares e educadores constroem o processo de discussão e tomada de decisões de modo coletivo. (Singer, 2010). É uma educação que visa a construção de uma sociedade democrática e igualitária. O/a professor/a se apresenta como um/a orientador/a, um catalisador, disposto a estimular os processos de reflexão e aprendizado (Libâneo, 2012)
Trata-se de uma pedagogia que procura levar em consideração as potencialidades de cada aluno e seu contexto cultural. Assim, essas escolas objetivam a criação de uma sociedade com participação de todos os seus cidadãos e cidadãs nas decisões, recriminando formas hierárquicas de poder e privilégios, através da formação de indivíduos críticos, responsáveis, autônomos e, sobretudo, livres (Singer, 2010). Vale frisar que nem todas as escolas desta pesquisa de autodenominam assim: esta foi uma escolha conceitual minha, a partir dos meus estudos e experiências.
Paulo Freire (2014) dizia que a liberdade era o que norteava a sua pedagogia, sendo alcançada através da participação livre e crítica dos educandos. Crítico da educação bancária, na qual o conhecimento seria depositado em alunos receptáculos de informação, defendia a ideia de uma educação problematizadora, que instigasse a reflexão nos educandos e nos educadores de forma horizontal e dialógica. Compreende-se que ambos possuem conhecimentos a serem compartilhados, cada um a partir de suas experiências.
As escolas democráticas propõem um olhar focado na criança como centro do processo educacional. A ideia de liberdade está na base do processo educativo, buscando transformar os sujeitos em responsáveis por suas experiências. Aprender faz parte do desenvolvimento humano e, para isso, as crianças precisam observar o mundo ao seu redor, a partir de um interesse. Esta perspectiva reconhece a importância não somente da cultura “erudita”, presente em museus e teatros, por exemplo, como também da cultura considerada “popular”, presente em hábitos, costumes e modos de vida dos espaços públicos e privados.(Singer, 2010).
A definição de educação inovadora, estabelecida pelo Ministério da Educação[1] em seu mapeamento de escolas brasileiras, dialoga em muitos aspectos à noção de educação democrática. O MEC se baseou em cinco dimensões de inovação e criatividade: gestão (corresponsabilização da construção e gestão do projeto político pedagógico) , currículo (voltado para o desenvolvimento integral, conectando os interesses dos estudantes, os saberes comunitários e os conhecimentos acadêmicos), ambiente (convivência de diferenças e promoção do diálogo e equidade), métodos (estudantes enquanto protagonistas de sua própria aprendizagem) e articulação com outros agentes (intersetorialidade a fim de garantir os direitos fundamentais dos estudantes).
A educação democrática não é uma simples inversão dos polos de uma educação tradicional, permitindo aquilo que antes era proibido e silenciando os responsáveis pela educação nestes espaços. Pelo contrário, ela propõe uma formação de cidadãos para que se possa viver plenamente em um regime democrático.
Apesar de ser um movimento extremamente ativo, seus ideais são invisibilizados no mundo acadêmico e midiático ou, quando expostos, pensados no imaginário social sob a perspectiva de “sucesso” ou “fracasso” a partir do modelo capitalista: Essa escola prepara para o vestibular? Seus alunos conseguem lugar de destaque no mercado de trabalho? É possível sobreviver uma escola que não se adeque ao sistema? (Singer, 2010)
Hoje no Brasil, já são 178 organizações inovadoras reconhecidas pelo Ministério da Educação. Os impactos dessas experiências em transformações sociais ainda estão se consolidando, porém já é possível compreender a existência de uma educação capaz de ressignificar os paradigmas estabelecidos. Diante das violações dos direitos humanos e da desigualdade social no Brasil, as escolas com valores democráticos podem se apresentar como uma das possíveis formas de incidir sobre esta realidade. Cada vez mais estas escolas estão rompendo suas barreiras de isolamento da sociedade e, devido a questões como as novas tecnologias de comunicação, se abrem para dialogar com as demais propostas pedagógicas, juntamente com a comunidade ao seu redor e a elaboração de políticas públicas (Singer, 2010).
Sobre o porquê do termo "democrática", acessar a aba "Blog e Reflexões".
COMO É A SUA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR?
A educação democrática é uma noção ampla de ensino e aprendizagem que acontece nas relações entre educadores e educandos, podendo ser experienciada em salas de aula de escolas tradicionais, em escolas democráticas ou até mesmo ao ar livre. Assim sendo, escolho investigar as escolas democráticas, isto é, escolas que propõem dinâmicas de organização pedagógica e estrutural pautadas na educação democrática. Vale frisar que cada escolar é unica e singular e possui a sua própria dinamica organizacional. Abaixo, falaremos sobre alguns dispositivos escolares que se apresentam na maioria na escolas observadas, porém não sendo de forma alguma uma regra ou tampouco requisito para as escolas democráticas. Esta apresentação é apenas para fins didáticos.
-
CICLOS:
As escolas democráticas, em sua maioria, propõem uma nova dinâmica organizada não em séries, mas em ciclos: agrupamentos de estudantes baseados em experiências socialmente significativas. O foco está no nível de autonomia dos estudantes. Normalmente os ciclos agrupam idades que passam por fases próximas como, por exemplo, o primeiro ciclo de crianças de 6,7,8 anos, segundo ciclo com crianças de 9,10 e 11 anos, e assim por diante. Quando sentem que seria positivo para um estudante mudar para o ciclo seguinte, há uma conversa entre educador e educando em que decidem, juntos, como será este processo.


-
tutoria:
Nestas escolas, trabalham professores e/ou tutores. Os tutores são orientadores dispostos a estimular e acompanhar os processos de reflexão pessoal e o aprendizado dos estudantes. Cada tutor possui em média um grupo de 10/15 estudantes que o elegeram no início do ano. São realizados encontros semanais ou diários com os grupos, podendo ser espaços de discussões de assuntos que lhes interessam, atividades descontraídas e até dinâmicas grupais. No mais, o tutor é aquele que acompanhará todo o percurso escolar de cada estudante, consciente da participação do mesmo em atividades escolares, desempenhos, relações interpessoais, familiares e emocionais. O tutor sabe se o estudante compareceu à escola e, caso contrário, irá se inteirar se houve algum problema. Há uma tentativa de desconstrução da hierarquia rígida entre professores e estudantes, ainda que se reconheça as responsabilidades dos adultos são distintas das responsabilidades das crianças.
-
ASSEMBLEIAS:
Quando pensamos em uma escola democrática, o primeiro marco que salta à mente são as assembleias que, por sua vez, representam o poder ativo de participação dos estudantes, professores, familiares e funcionários na dinâmica escolar. São escolas que acreditam em uma gestão participativa, incluindo todos nos processos de decisão. As assembleias são momentos de debates e criação de regras e acordos coletivos. Os temas debatidos variam desde o currículo até acordos de convivência. Em algumas escolas, os estudantes participam das reuniões de orçamento e, inclusive, tem voz no processo de contratação dos professores. Há escolas que realizam assembleias gerais com todos os estudantes. Outras, trabalham com pequenas decisões tomadas por ciclos e somente assembleias gerais quando são temas grandiosos e relativos à escola inteira. Existem também assembleias que são feitas entre os próprios ciclos quando se tratam de problemas referentes somente a um grupo e não à escola inteira. Costuma-se dividir a temática em pequenos subgrupos que refletem e elaboram pontos. Depois, todos se juntam e estes pontos são expostos, já em formulações mais organizadas para, em um próximo momento, haver votações.


-
grupos de responsabilidade:
Algumas escolas desenvolvem comitês/ grupos de responsabilidade, nos quais os estudantes se escrevem e participam de reuniões semanalmente.
A ideia é que as diversas tarefas da escola sejam distribuídas por todos. Os grupos costumam ser: alimentação; Assembleia (organizam as pautas); visitas (tour com curiosos que visitam a escola) ; biblioteca (organização dos livros, regras) ; horta/jardim (criação e manutenção) ; laboratório de ciências (monitores responsáveis pelo espaço); música na escola(dj’s do recreio); saúde e cuidados (espécie de enfermaria); passeios, limpeza (comunitária), Mediação de conflitos (tribunal); Reciclagem, Brinquedos e Jogos; Manutenção; Financeiro. Cada estudante se inscreve no grupo que tiver interesse.
-
mediação de conflitos/tribunais
Em algumas escolas, há uma ficha em determinada parte da escola na qual os estudantes devem preencher caso queiram levar alguma situação para o Tribunal. Normalmente, tenta-se solucionar o problema no momento, sendo o tribunal o último recurso. Na folha, a criança descreve o ocorrido e os envolvidos. Todos os dias (ou de tempos em tempos) acontece o tribunal, onde o caso é apresentado e ambas as partes possuem oportunidade de expressar seus pontos de vista sobre a situação.Todo tribunal conta com a presença de um professor e alguns juízes. Os juízes são crianças que se voluntariam ou, em algumas escolas, crianças eleitas pelas demais para ocuparem este cargo. A proposta deste tribunal é menos punitiva e mais de mediação e resolução de conflitos de forma educativa e construtiva. Esse processo permite que os participantes coloquem as suas questões em disputa, através da assistência de um educador e dos demais colegas, visando a promoção do diálogo e o desenvolvimento de ações alternativas que caminhem para um acordo mutuamente aceitável. Trata-se de um espaço em que os estudantes possuem voz, nos quais os conflitos são ouvidos com atenção e seriedade

-
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
A pedagogia democrática valoriza a imaginação e a criatividade dos estudantes, incentivando-os a pensar naquilo que eles gostariam de aprender e fazer. Se baseia na noção de que os alunos são protagonistas e ativos na escolha do tema que desejam aprender, elaborando projetos e escolhendo disciplinas a partir de seus interesses. Acredita-se que toda criança tem prazer em aprender a partir de sua curiosidade diante do desconhecido, iniciando este movimento nos projetos e aulas em que busca responder a perguntas que não sabe. Cada escola possui uma organização singular. Aqui, apresentaremos alguns exemplos.
Planos do dia; Planos mensais
Ex: Escola da Ponte e Projeto Ancora

Na escola tradicional, parte-se do currículo obrigatório em que o conhecimento é dividido por disciplinas. A partir daí a escola se organiza em séries, aulas dissertativas e provas, chegando, ao final, na criança. Já em algumas escolas democráticas, o ponto de partida é a criança e a sua curiosidade. Uma vez que apresenta algum interesse, ela pode se engajar em algum projeto pessoal ou em grupo para investigar tal tema. A tutoria acompanha todo o processo e a avaliação é processual. Ao longo desta etapa de investigação, analisa-se quais conteúdos do currículo obrigatório estão sendo abarcados. As disciplinas são abordadas, visando, além do conhecimento, processos de autonomia, protagonismos e cidadania.
Na Escola da Ponte e no Projeto Ancora, todos os dias, ao chegarem na escola, as crianças realizam o planejamento do dia. Leva-se em consideração as oficinas (circo, dança, artes) que estão inscritas desde o início do ano, encontros com colegas para estudos e pesquisas, encontros com seu tutor, participação em algum grupo de responsabilidade, brincadeiras, jogos, atividades na sua comunidade, refeições e outras atividades. Trata-se de um exercício diário de como gerir seu próprio tempo.De 15 em 15 dias, as crianças decidem qual tema elas gostariam de estudar e inauguram um projeto. Os educadores se reúnem e juntos constroem um planejamento de estudos que pode ser individual ou coletivo. Com orientação de seu tutor, o educando escolhe o que estudar no período de uma semana ou quinzena e monta seu roteiro. Após quinze dias, o grupo ou o estudante sozinho se reúne novamente com o professor a fim de avaliarem, juntos, como foi a aprendizagem deste processo, apresentando, se houver, as dificuldades encontradas.
Projetos coletivos
Ex: Escola Comunitária Cirandas; Sá Pereira; Oga Mia

A Escola Comunitária Cirandas se organiza de modo distinto. Após algumas saídas a campo no início do ano a fim de despertar interesses e dúvidas, o Ciclo II se dividiu em três projetos que gostariam de se aprofundar: desigualdade social, música e tecnologia. Cada professor de área (português, matemática, ciências humanas, ciências biológicas e inglês) traça um plano de estudos/roteiro para cada grupo. Por exemplo, na aula de ciências humanas, o professor traçou um plano de assuntos que os alunos devem passar, sempre procurando relacionar com o currículo. Em cada aula, ele apresenta um mini roteiro do dia para os estudantes realizarem, podendo se valer de livros, textos, internet, filmes, etc.
Já Escola Sá Pereira e Ogá Mita se organizam através de projetos centrais de toda a escola, elegidos no início do ano por estudantes, professores e familiares. A partir da temática eleita, cada turma adentra por um recorte e realiza os estudos a partir deste horizonte. Por exemplo, o projeto elegido no último ano foi “a última gota d’agua”. Algumas turmas se interessaram por falar sobre racionamento de agua e, a partir deste tema, estudaram ciclo das chuvas, saneamento básico, etc. Outra turma fez um mural no qual cada um desenhava uma gota e, dentro dela, escrevia o que era a “gota ´d’água” para você, aquilo que você não tolera. A partir destes vieses, os conteúdos vão sendo abordados. Ao final de cada ciclo de temas, há uma grande apresentação para todos.
Livre escolha das disciplinas
Ex: Escolas democráticas israelenses e Escola Municipal Amorim Lima

No início do período letivo, as crianças recebem um quadro com algumas matérias que são disponibilizadas pelos professores. Em cada horário, existem cerca de 5 opções. As matérias são acordadas previamente em assembleia e elas podem variar de acordo com os níveis de conhecimento (ex: matemática 1, 2 ou 3) . Cada ciclo recebe opções de aulas, mas muitas delas podem ser feitas em conjunto com os demais ciclos. Existem as aulas “clássicas” como matemática, hebraico, ciências, inglês, mas também aulas como acroyoga, cidadania, dilemas éticos da atualidade, ping-pong, cinema, e o que mais as crianças desejarem e os professores puderem oferecer. As crianças possuem duas semanas iniciais para experimentarem as aulas para ver se gostam. Uma vez que elas se inscreverem, elas afirmam o compromisso de que irão participar até o final do semestre. É possível escolher frequentar nenhuma aula em algum horário. As aulas podem ser expositivas ou dinâmicas. Isso depende de cada professor e do acordo que é traçado com a turma. Os tutores estão atentos às escolhas e aulas dos estudantes, sempre conversando a respeito das decisões.
Na escola pública Amorim Lima, em São Paulo, a dinâmica é diferente. Cada ano, as crianças recebem um “Roteiro de Pesquisa”. Nele está descrito todos os conteúdos que devem ser abordados naquele ano. Cada criança tem autonomia de decidir em que momento quer estudar cada conteúdo, realizando um planejamento anual. Por exemplo, o 8º ano possui o roteiro de história que foca em América e Construção do Estado Nacional Brasileiro. Cada roteiro possui objetivos, por exemplo: “Estudar o processo de independência das colônias inglesas e a formação dos Estados Unidos”. Cada objetivo apresenta determinadas atividades: pesquisar no dicionário a definição de liberdade e independência; ler as paginas 93 a 96 do livro x, responder anexo 2, pesquisar e responder quem foram Angela David, Rosa Parks, etc.
-
AVALIAÇÃO E VESTIBULAR
Avaliação é entendida como um percurso contínuo, com ênfase no processo pelo qual o aluno passou e não no produto final. Trata-se de um momento do educador com o estudante em que ele compartilha o que aprendeu, dúvidas, questões. Caso haja alguma dúvida que persista, o educador pode indicar que a criança permaneça estudando este tema nos próximos dias, para que o conteúdo seja melhor compreendido. A possibilidade de realizar avaliações heterogêneas e não padronizadas permite a valorização das múltiplas aprendizagens dos estudantes a partir de suas diferentes experiências.O erro não é interpretado como incapacidade, e sim como parte do processo e da relação entre o que foi aprendido e o que está sendo elaborado.
O vestibular é compreendido como uma opção e escolha do estudante e não como algo obvio. É nesta possibilidade de escolha que podemos destacar um processo de resistência às lógicas totalizantes. Trata-se de um estudante que teve a oportunidade de pensar de forma crítica sobre o processo de vestibular, ponderar as consequências e tomar uma decisão. Uma vez decidido realizar as provas, a rotina escolar é modificada e direcionada para se alcançar este objetivo, através de aulas expositivas e de uma rotina mais rígida. Uma vez que a aprendizagem ao longo da vida escolar não é meramente memorizada e descartada após as provas, integrada à vida do estudante, isso facilita os estudos, não sendo necessário “reaprender” todo o conteúdo de uma vida inteira durante o Ensino Médio.
Referências Bibliográficas:
Freire, P. (2014). Pedagogia do Oprimido. (56ª ed.) Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra
Libâneo, J. C. (2012) Psicologia Educacional: uma avaliação crítica. In: S, Lane (org); W, Codo. (org). Psicologia Social: o homem em movimento. (pp. 154-180) São Paulo: Brasiliense.
Silva, T. O. A. (2007). Desaprendendo a ver: Representações da Linguagem Discente na Escola da Ponte. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Singer, H. (2010). República de crianças: sobre experiências escolares de resistência. Campinas, SP: Mercado de Letras.