Escola da Ponte, Portugal

Neste espaço físico funcionam duas escolas, sendo a Escola da Ponte o último dos 4 blocos de concreto. A Escola funciona nesta sede há 6 anos. Nas paredes, haviam as “direitos e deveres dos visitantes” – dentre os tópicos listados, destacava-se o pedido para não tirar fotos ao longo da visita. Assim, justifico o fato de não ter fotos da escola nesta sessão do site. Para mais imagens, indico o Facebook da Escola: https://www.facebook.com/escolabasicadaponte/

Em janeiro de 2018 tive a oportunidade de realizar um sonho: conhecer a Escola da Ponte. Esta escola foi uma das grandes responsáveis pelo meu percurso relacionado à educação democrática. A Escola da Ponte foi idealizada pelo professor José Pacheco em 1976. Trata-se de uma instituição pública de ensino, localizada em São Tomé de Negrelos, no distrito do Porto. Suas práticas pedagógicas se distanciam do modelo tradicional, proporcionando uma educação democrática baseada em trocas, integração, autonomia e participação dxs alunxs e demais educadorxs da escola.

Também é possível observar cartazes escritos “preciso de ajuda” e “eu já sei”. Estes cartazes são facilitadores das trocas e aprendizagens entre xs alunxs. Quando alguém se sente seguro em determinado assunto, coloca seu nome na lacuna de “eu já sei”; do mesmo modo que alguém que necessita de ajuda em algo pode escrever seu nome na outra lista. Assim, é possível aprender de forma autônoma entre xs próprios alunxs, deslocando a imagem do professor enquanto detentor do saber. No mais, o cartaz “eu já sei” funciona também como uma forma dx estudante compartilhar com seu tutor/a o fato de ter aprendido determinado assunto. Sem a necessidade de provas ou avaliações, a própria criança é capaz de reconhecer sua aprendizagem e comunicar ao tutor/a. Já os cartazes “acho bem” e “acho mal” são espaços para que xs estudantes compartilhem críticas ou elogios do funcionamento escolar ou de situações especificas. Além destes cartazes, havia uma folha escrita “pesquisa de casa” – quando uma criança inicia um estudo na escola, porém não há tempo para concluir, ela escreve ali que irá estudar o restante em casa.
Em dado momento, duas crianças (pareciam ter 10/12 anos) se aproximaram e se apresentaram como responsáveis pelo nosso tour na escola. Elas nos contaram que a escola funciona em planos quinzenais e diários. Nos quinzenais, senta-se com seu/sua tutor/a e juntxs estabelece-se qual tema será estudado nos próximos quinze dias dentro de cada disciplina. Ou seja, a partir das disciplinas estabelecidas (português, matemática, ciências, historia, etc) cada alunx poderá escolher um tema de cada matéria para se aprofundar durante quinze dias. Após este período, reúne-se novamente com seu/sua tutor/a para uma avaliação do conteúdo estudado, podendo ser das mais variadas formas: uma conversa, um texto, uma apresentação, um trabalho, etc. Já os planos diários são estabelecidos todos os dias ao chegar na escola, listando as atividades que serão feitas em cada horário. Durante o dia escolar, existem encontros coletivos como, por exemplo, Educação Física, Oralidades (línguas, exercícios como “listening” que exige que todxs escutem a mesma gravação); e momentos individuais nos quais xs alunxs estão focados em seus próprios projetos e estudos.


A escola é dividida entre o “pré-escolar” (3,4,5 anos), Iniciação (6,7,8 anos), Consolidação (9,10,11 anos) e Aprofundamento (12,13,14 anos) – podendo variar. Dentro destes ciclos, existem grupos menores e subgrupos de até 5 pessoas. A Iniciação tem como um dos focos principais a alfabetização. Cada criança é acompanhada por um/a tutor/a e cada tutor/a acolhe, orienta e acompanha cerca de 10 estudantes. Ao adentrar nas salas, vemos sempre mesas redondas e pequenos grupos de 4/5 crianças estudando. Normalmente, cada criança está estudando um tema diferente de acordo com seu plano diário individual. Como a escola é pública, os professores entram por uma espécie de concurso e não necessariamente conhecem ou se adaptam a esta dinâmica escolar. A escola possui uma longa lista de espera de alunxs.

No início de cada ano letivo, x estudante se inteira dos conteúdos que serão abordados, havendo a possibilidade de escolher como estudar e qual tema estudar em cada momento.Por exemplo, se um aluno do 6º ano já estudou todo o conteúdo de equação/matemática deste ano, ele poderá começar a estudar o conteúdo relativo ao 7º. Há sempre um/a professor/a permanece no salão para ajudar e orientar xs alunxs se preciso. Assim, estabelece-se uma rotina em que cada estudante cria o seu ritmo de aprendizagem, de acordo com seu tempo e suas escolhas. Quando x alunx sente que chegou seu momento de fazer avaliação, elx convoca seu tutor/a.

Nossas guias também nos contaram sobre os direitos e deveres dos membros da escola, estabelecidos através das assembleias. Existe uma comissão da assembleia (grupo de 10 pessoas) que organiza as pautas das assembleias e lidera este encontro que acontece semanalmente. Além desta comissão, há outros “grupos de responsabilidade” como: comissão de ajuda (para solução e mediação de conflitos); murais, materiais comuns e música; datas e eventos; eco-escolas; jornal e Facebook; leitura ; jogos e “recreio bom” ; terrário e jardim; visitas, etc. Cada estudante elege um grupo que gostaria de participar, havendo um tempo semanal dedicado à esta atividade.

A sala do infantil foi apresentada por duas crianças de 5 anos. Nos mostraram o mural das estações do ano, letras de música penduradas nas paredes, uma lista com as fotos das crianças da sala , etc. Elas estavam muito, muito envergonhadas. No entanto, quando fazíamos alguma pergunta, respondiam prontamente. Perguntei se eles participavam da assembleia e afirmaram que sim, ainda que muitos saiam no meio, pois são muito pequenos para acompanharem horas de discussão.

Em momento algum da nossa visita apareceu qualquer adulto para conversarmos. Ou seja, do início ao fim da visita, entramos em contato somente com as alunas. Confesso que havia uma certa expectativa de ao final do encontro vir alguma diretora pedagógica/ coordenadora/ educadora para conversar com o grupo. As meninas nos guiaram com muita segurança e propriedade em suas falas, mostrando que de fato não há ninguém melhor do que elas para falar da sua própria escola construída dia-a-dia com este grande coletivo.
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