Escola Democrática Kedem Arad, Israel

Visitei a escola democrática de Arad em dezembro de 2017. A escola se localiza em uma região árida e desértica de Israel. Foi uma longa viagem dentro do país para chegar até esta cidadezinha mas, sem dúvidas, valeu muito a pena. A escola Kedem Arad é pública e recebe cerca de 110 crianças da região.
Trata-se de uma escola que valoriza os processos de liberdade e aprendizagem, respeitando o tempo e as decisões de seus estudantes. A única obrigação são os encontros com os tutores no início do dia, permitindo que a criança lide com sua autonomia e envolvimento nos processos educativos diários.
Enquanto aguardava a diretora, uma aluna sentou ao meu lado e começamos a conversar. Ela queria saber quem eu era, o que fazia ali e, principalmente, o que me havia feito sair do Brasil para visitar esta pequenina escola tão distante. Eu logo compartilhei minha paixão pela educação democrática e minha curiosidade de conhecer esta escola. Ela contou o que achava da escola e me chamou atenção a certeza do significado e importância desta forma de educação na sua vida. Me disse que anteriormente estudava em uma escola tradicional e que acordava todos os dias sem vontade de ir, mas felizmente havia trocado e agora estava muito feliz com o seu processo educativo.


Na parede da escola, havia um quadro com algumas opções de atividades divididas por horários: matemática, música, artes, direitos humanos, cidadania (leis do pais), parlamento, mediação de conflitos, placemaking (como estar mais atento ao presente, mais atento com o mundo a sua volta), etc. No inicio do semestre, após uma semana de “teste” nas disciplinas que mais se interessarem, é possível eleger as matérias que serão cursadas. Uma vez que se elege cursar uma disciplina, a criança deve-se cursa-la até o final, convocando responsabilidade por esta escolha. Se por alguma exceção, x alunx não quiser mais cursar a matéria, isso deve ser conversado com seu tutor.
Acredita-se que o livre brincar, as conversas fora de sala, as integrações, a leitura espontânea, também são processos de aprendizagem, não sendo obrigatório tampouco escolher atividades em todos os horários. A aluna me disse: "você até pode escolher não fazer nada durante o dia. Mas isso nunca acontece. As atividades são legais e fomos nós que escolhemos elas, então não faz sentido você não participar. A pessoa que estará perdendo oportunidade de participar de uma aula interessante. " Existem professorxs que apresentam um conteúdo mais fixo e outrxs que estão abertxs para construir junto com a turma: “o meu tema é artes: o que vocês gostariam de estudar dentro desta área? Como podemos pesquisar juntos? Quais pontos vocês querem se aprodundar?” No mais, não há provas na escola. As turmas são pequenas, sendo possível que x professor/a acompanhe cada alunx de perto, compreendendo seus processos, dificuldades, dúvidas, etc.
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Todos os dias pela manhã xs alunxs se encontram com o seu tutor/a por meia hora/quarenta minutos. O/a tutor/a é escolhidx pelxs alunxs no início da cada ano letivo, sendo a pessoa responsável por acompanhar x estudante durante seu processo educativo. Por exemplo, se uma criança nunca escolheu estudar matemática, o tutor irá identificar isto e tentar compreender o que está acontecendo: será que de fato a criança não gosta deste assunto? Será que ela conhece o mundo da matemática? Será que não estuda este tema por ter dificuldades? No mais, são as próprias crianças que escolhem o momento que se sentem preparadas para ir para o ensino fundamental e/ou mudar de ciclo. Isso pode acontecer com 6 anos, 8 anos de idade, não havendo uma idade “certa”. Neste momento, marca-se um encontro entre a criança, familiares e o tutor para conversarem sobre essa transição.
Além das atividades/aulas do quadro, existem várias “vaadot” (grupos de responsabilidade/comitês) que as crianças podem participar: jornal, mini zoológico, mediação de conflitos, parlamento (organiza as pautas a serem discutidas), etc. Quando uma criança tem vontade de mudar algo na escola, ela escreve a sua ideia, seus argumentos e recolhe algumas assinaturas pela escola. Quando se alcança um determinado número, esta pauta vai para o parlamento para ser discutida e votada por todos. Diante de algum conflito, a criança pode pegar uma folha na qual escrever seu nome, a data e a queixa. Posteriormente, o grupo de responsabilidade “mediação de conflitos” (há sempre um adulto participante) lê o ocorrido e convoca as pessoas envolvidas para conversarem e chegarem a alguma solução ou inclusive punição (ex: escrever um texto sobre o assunto, não ir na escola algum dia, etc). Todos os dias, ao final do dia, todxs xs alunxs e educadorxs limpam a escola juntos. Há uma organização na qual cada um escreve o seu nome em qual área da escola você gostaria de limpar diariamente. Xs educadorxs são sempre responsáveis pelos banheiros. No último dia da semana faz-se realmente uma grande faxina. Isso proporciona um sendo de cuidado e responsabilidade com o espaço escolar.

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A diretora me contou que seus filhos estudaram nesta escola. Sua filha, em dado momento, resolveu fazer o vestibular. Diante disso, ela optou por ingressar em uma escola tradicional que tivesse como foco este objetivo. De forma muito tranquila, ela disse que o objetivo desta escola democrática não era o vestibular (poderia ser também, mas não era prioridade) havendo outras escolas que poderiam preparar melhor para esta finalidade. Sua filha entrou na escola tradicional com uma nota excelente e se adaptou muito bem, pois a partir das ferramentas de escolha e autonomia proporcionadas pela escola democrática, ela pôde ter clareza da sua escolha. Inclusive, o professor desta escola tradicional, ao ver o brilho nos olhos e o prazer em aprender dela, optou por colocar seus filhos na escola democrática de Arad, rs.
No pátio, era possível ver crianças das mais variadas idades brincando juntas. A escola é aberta para receber crianças árabes, porém não há nenhum aluno. De acordo com xs educadorxs, a comunidade árabe da região é bem conservadora e acham a proposta pedagógica da escola muito “aberta”.
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