Escola Sa Pereira, Rio de Janeiro.

Nesta apresentação, a diretora definiu a escola enquanto construtivista e sociointeracionista. A escola acredita na possibilidade de aprendizagem das crianças entre si, por meio de grupos equilibrados. Caso seja necessário, há um reforço pedagógico ao final do período letivo para auxiliar os estudantes nos temas que apresentaram mais dificuldade. Uma vez por semana, acontece o momento da “tribo”, no qual cada turma se reúne com a orientadora pedagógica para discutirem soluções coletivas, reflexão sobre regras, conflitos ou temas de interesse do grupo. Este momento sempre de inicia com uma meditação.

Uma vez eleito o projeto central, cada turma tem a liberdade e autonomia de circular por este tema, realizando um recorte de acordo com o seu interesse. A partir do projeto, o conhecimento pode ser abordado de forma transdisciplinar e globalizadora, proporcionando uma aprendizagem alicerçada no real. Assim sendo, esta abordagem permite uma compreensão não segmentada em saberes, e sim baseada em uma pesquisa com olhar crítico, por meio de estratégias coletivas de problemas complexos. De acordo com a direção, o projeto central da comunidade escolar favorece a troca e circulação de informações, garantindo a cooperação e a democratização do saber. No ensino Fundamental, os professores especialistas pautam as suas aulas no projeto eleito. Assim, é possível estudar um mesmo tema, através de diversas perspectivas. Em muitos momentos, os especialistas se encontram e realizam projetos em conjunto, pautados na troca entre saberes.

A escola acredita em uma média de 25/30 alunos por turma e somente uma turma por turno, visando a qualidade do ensino. Em termos de inclusão, a escola disse ter mediadores orientados por uma especialista. Além disso, há um trabalho em parceria com a família e as possíveis terapias. A escola recebe no máximo dois alunos de inclusão por turma. Dentre as perguntas feitas pelos familiares, surgiu o questionamento sobre a venda da escola para um grande grupo empresarial. A diretora explicou a empresa “Raiz Educação” se propôs a administrar e comprar a maior parte da escola. Ela afirmou que o projeto pedagógico da escola não será alterado.A partir desta decisão, a escola aumentara o número de alunos, comprando uma nova sede para alocar o fundamental. A diretora afirmou que a relação de 1 professor para 12 alunos permaneceria a mesma.
Após este momento, realizamos um tour para visitar a escola. Esta sede eram duas grandes casas que foram unificadas. Passamos pela biblioteca, sala de música, sala de dança e salas de aulas (todas com carteiras reunidas em grupos, nunca em fileiras). A escola se centraliza em um prédio vertical. Ao caminhar pelos corredores, era possível ver murais feitos pelos próprios estudantes.

Neste ano, o projeto “Zoom: diferentes formas de ver e experimentar o mundo” foi trabalhado. Um dia, a educadora trouxe um livro que proporcionava diversos questionamentos sobre o mundo de acordo com as distintas perspectivas: "o mar começa ou termina na praia?" . Diante disso, surgiu uma pergunta de um dos alunos: "e o mundo? Onde começa? Quando começou?" – A partir de então, o projeto da turma passou a ser sobre a origem do mundo. A educadora trouxe diversas perspectivas sobre a criação do mundo: olhar da ciência, contos indígenas, histórias chinesas, contos africanos, etc. A turma optou por se chamar “turma da explosão”, referência ao Big Ban. Ao longo do semestre, foram feitas diversas atividades que exploraram este tema como, por exemplo, estourar bolhas de plástico e pintá-las, o estouro da pipoca, etc.

A visita a Escola Sa Pereira, localizada no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, aconteceu em julho de 2017. A visita iniciou com um vídeo institucional mostrando diversos trechos de momentos marcantes da escola: o coral, apresentações de teatro, dança, brincadeiras entre os alunos, etc. A diretora iniciou a sua fala elencando os princípios da escola: artes, projetos e relações. Explicou que a escola é completamente atravessada pelas artes e que isto é algo intrínseco desta pedagogia. A educação infantil possui educadores especialistas de música e dança, além do educador fixo da turma e um auxiliar. Já no Fundamental I, permanece somente um professor da turma, e os especialistas vão sendo agregados com o passar dos anos: Educação Física, Inglês, Teatro, Artes Visuais e Coral. A partir do Fundamental II, ingressam os especialistas das disciplinas (Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia).

Todos os anos, o ensino e aprendizagem da escola se baseiam em um projeto central, “Projeto Institucional”. Ao fim do período letivo, a escola envia para os familiares um questionário, perguntando qual poderia ser o tema do ano seguinte, isto é, “qual tema é mais importante abordarmos nesse momento?”. A escola recebe as respostas dos familiares e aglutinam em eixos. Acontecem então 4 assembleias a fim de se discutir e chegar a uma conclusão. As assembleias são com os familiares da educação infantil, do fundamental I, do fundamental II e com os alunos a partir do 6º ano. O tema deverá ser amplo, capaz de desenvolver uma pesquisa para crianças de todas as idades, fornecendo muitas fontes. Uma pequena frase resume a ideia do tema a ser explorado. Em 2017, o projeto chama-se “Zoom: diferentes formas de ver e experimentar o mundo”. No ano de 2016, o projeto foi “Nós: saber conviver, saber cuidar”. Em 2015, “Pedra sobre Pedra, um Mundo em Construção”. Em 2014, “Você tem fome de quê?”.

A avaliação dos alunos é “processual”, sendo uma conscientização do professor sobre as necessidades dos alunos. Até o 4º ano, os educadores realizam documentos semestrais sobre as crianças. A partir deste ano, são feitos boletins. As crianças são classificadas entre os conceitos: A, B, C, D, E. Este conceito é um somatório de todas as ferramentas de avaliação que podem ser utilizadas pelo professor: trabalhos individuais, em grupo, apresentações, provas e autoavaliações. No inicio de cada semestre, as crianças recebem os objetivos de cada disciplina, sendo possível acompanhar o seu processo e saber onde melhorar. De acordo com a diretora, a prova não era um momento de “pressão”, e sim de "aproximação do professor das dificuldades da criança, para melhorar no futuro".

Após esta visita, fui até a sede da educação infantil. Uma educadora me apresentou a escola me contou sobre o seu projeto. Ali há turmas de 2/3 anos e turmas misturadas com crianças de 4,5,6 anos. Acredita-se que crianças menores e maiores podem se relacionar e trocar de forma rica. Caminhei pelos espaços da escola: havia uma casa principal e uma área livre na parte detrás onde havia uma casinha na árvore. Na educação infantil, não há uma sala fixa de uma turma, acontecendo uma rotatividade dos espaços. Acredito que isso gera um senso maior de identificação com os espaços da escola e responsabilização. Haviam salas repletas de brinquedos, murais de arte, banheiros compartidos e um pátio coberto no alto.

Por fim, a escola realiza diversos passeios, pois acredita na importância de abrir as portas para o mundo. Os jornais, as revistas, a televisão, a internet, os profissionais, os museus, os parques, as exposições, os movimentos culturais, sociais e políticos chegam à escola e são aproveitados pedagogicamente. Acontecem festas ao longo de todo o ano, comemorando o aprendizado realizado. De acordo com a escola, o aprendizado não deve ser armazenado e sim compartilhado. Geralmente, três momentos festivos envolvem toda a comunidade: o tradicional desfile do bloco de carnaval, a Festa Junina e a de Encerramento.
Para mais informações:
http://www.escolasapereira.com.br/pagina/45












